O modelo virtual é o mais importante da metodologia BIM?

Sendo BIM um processo, uma metodologia de trabalho, em que o cerne é a compilação de uma base de dados, envolvendo várias ferramentas e tecnologias, proporcionando uma maior produtividade e qualidade nas diferentes fases de vida de um edifício, desde a sua conceção às operações/manutenção, será correto dizer que o modelo 3D, ou modelo de construção virtual é o mais importante e talvez a única coisa a retirar da metodologia? A resposta é um redondo não.

 

Para além das fantásticas imagens tridimensionais, desenhos e tabelas que o modelo de construção virtual nos proporciona, o processo de trabalho que existe por trás delas está envolvida num arcabouço teórico bastante complexo, que muitos desconhecem, e que no quotidiano acabam por não perceber, que só que estão a ver a ponta do iceberg da informação que podemos extrair da base de dados construída, e acabamos por não lhe dar a sua real utilização e valor.

Usos do BIM
Fig. 1– Comunicar é um dos Usos BIM

Daí que mais importante que ter um modelo virtual, é necessário saber o que realmente podemos extrair da base de dados que o compõe, só assim é possível usufruir da metodologia BIM em todo o seu esplendor e garantir que o produto final, seja entregue de acordo com as necessidades identificadas e rentabilizar ao máximo a utilização desta tecnologia.

Estes usos são essenciais na definição da espinha dorsal do modelo, daí serem de especial importância estarem definidos desde início de contrato, uma vez que estamos a tratar de uma base de dados, e assim vamos evitar duplicar, diria por vezes triplicar trabalhos, de modo a não ter que se redefinir todas as linhas orientadoras do modelo.

Mas, quais serão os usos dos modelos, ou usos BIM? Existe uma panóplia de guias, que identificam as diferentes formas de utilizar os modelos, entre as que tem prevalecido ao longo do tempo e se tornado referência nesta área, temos o Guia de Planeamento de execução BIM da PennState University, que apresenta de forma ampla e simplificada 21 usos para os modelos, contrapondo com outras teorias que apresentam exaustivamente centenas de utilizações possíveis para estas bases de dados.

A universidade da Pensilvânia propõe assim uma divisão em 5 categorias primárias dos usos BIM, são elas: Reunir, Criar, Analisar, Comunicar e Realizar. E em que cada uma dessas divisões correspondem temas secundários:

 

1.      Reunir – Juntar ou organizar informações sobre as instalações/edifícios

1.1. Capturar – Divulgar ou preservar o estado atual dos edifícios e seus elementos;

1.2. Quantificar – Expressar ou medir a quantidade de um elemento no edifício;

1.3. Monitorizar – Para juntar informações sobre o desempenho dos elementos e sistemas dos edifícios;

1.4. Qualificar – Caracterizar ou identificar o status dos elementos da construção;

 

 

2.      Criar – Projetar um edifício

2.1. Prescrever – Determinar as necessidades dos elementos da construção

2.2. Organizar – Determinar a localização dos elementos na construção

2.3. Dimensionar – Determinar a magnitude e escala dos elementos na construção

 

3.      Analisar – Estudos e análises sobre o projeto

3.1. Coordenar – Garantir a eficiência e harmonia dos elementos da construção

3.2. Prever – Antecipar o comportamento dos elementos na construção

3.3. Validar – Verificar ou provar a exatidão da informação nos elementos da construção, assim como a sua lógica e razoabilidade

 

 

4.      Comunicar – Documentação gráfica (Desenhos, 3D, etc.), não gráfica (Tabelas, quantidades, etc.)

4.1. Representar – Gerar uma representação realista dos elementos na construção

4.2. Transformar – Modificar a informação para ser compreendida por outras ferramentas BIM

4.3. Desenhar – Fazer uma representação simbólica dos elementos da construção

4.4. Documentar – Gerar um registo de todos os elementos e sistemas da construção

 

 

5.      Realizar

5.1. Fabricar – Utilizar a informação para fabricar elementos construtivos

5.2. Montar – Utilizar a informação para relacionar ou juntar os distintos elementos da construção

5.3. Controlar – Utilizar a informação para manipular fisicamente as operações

5.4. Regular – Utilizar a informação da construção para informar sobre a operação de um elemento

 

Reunir

Criar

Analisar

Comunicar

Realizar

Capturar

Quantificar

Prescrever

Organizar

Coordenar

Prever

Representar

Transformar

Fabricar

Montar

Monitorizar

Qualificar

Dimensionar

 

Validar

 

Desenhar

Documentar

Controlar

Regular

A partir destes usos genéricos e abrangentes, a Universidade da Pensilvânia apresenta assim uma classificação base dos usos possíveis para um modelo de informação BIM, nas variadas fases de um projeto:

  1. Modelação das condições existentes – Utilizar o modelo para identificar as condições existentes e futuras de um determinado lugar. Estudar as repercussões que um edifício pode causar desde o seu desenho, passando pela sua construção e vida útil.
  2. Medição e custos de obra – Usar um modelo para controlar custos em cada uma das fases de projeto.
  3. Planificação de obra – Usar um modelo para poder planificar o trabalho, ajustando os processos com a variável tempo. O modelo 4D é uma ferramenta de visualização e comunicação que traz à equipa de projeto uma maior compreensão das fases e planeamento da construção.
  4. Análise do local – Utilização do modelo para estudar a localização apropriada do edifício ou infraestrutura num local específico.
  5. Análise de normas urbanísticas e utilizações – Avaliar com eficiência e precisão o desempenho do projeto em relação aos requisitos espaciais e regulamentações. Tomadas de decisão logo nas fases iniciais de projeto.
  6. Revisões de projeto – Utilização do modelo para a tomada de decisão, revisão espacial e arquitetónica do edifício.
  7. Classificação dos elementos construtivos – Utilizar os parâmetros nos modelos para incluir classificações universais que possam ser reconhecidos por processos industriais da construção.
  8. Sustentabilidade – Utilizar os modelos para obter certificações de sustentabilidade;
  9. Análise de Engenharias – Com um modelo podemos realizar cálculos estruturais, instalações, estudos energéticos, etc.
  10. Auditoria de projeto – O modelo também pode estar ligado com ferramentas de análise de desenho.
  11. Coordenação – Detetar interferências entre os modelos de projeto das diferentes especialidades, permitindo a eliminação prematura de conflitos em obra.
  12. Controlo de execução da obra – O modelo ajuda a organizar a instalação e a localização específica de um determinado equipamento no local. Planeamento de tempos e obras para localização dos referidos equipamentos.
  13. Fabricação digital – Utilização das informações digitais do modelo para facilitar a fabricação de elementos de construção exclusivos.
  14. Desenho em fase de construção – Utilizar o modelo para resolver desenhos de elementos e estruturas complexas durante a fase de obra.
  15. Planificação da implantação em obra – Localização e gestão da implantação in loco do estaleiro. Também permite estabelecer fluxo de pessoal, etc.
  16. Registo digital da construção (Digital Twin) – Representação das condições físicas dos elementos estruturais, arquitetónicos e MEP. Entrega do modelo As built com instruções específicas de operação e manutenção.
  17. Plano de emergência – Usar o modelo para os serviços de emergência de modo a prevenir incidentes, até mesmo para poder atuar de forma mais rápida e eficiente em caso de desastre.
  18. Gestão de espaços – Utilizar o modelo para distribuir e gerir os espaços do edifício com base nas necessidades reais, modificar os usos do espaço e assim por diante.
  19. Gestão de ativos – Utilizar o modelo para poder gerir a curto e longo prazo as repercussões financeiras das modificações no edifício. Programando esses custos, com a ajuda do modelo pode-se controlar os investimentos de custos de possíveis modificações.
  20. Análise dos sistemas do edifício – Medir o desempenho de um edifício em comparação com o que foi especificado no projeto. Controlo da energia utilizada, análise de iluminação, controle de ventilação, etc.
  21. Manutenção do edifício – Estabelecer um programa de manutenção da construção ou infraestrutura.
 

A relação das diferentes fases de projeto com os usos BIM, pode facilmente ser explicada no diagrama seguinte:

Relação das fases de projeto com os Usos BIM
Fig 2 - Relação das fases de projeto com os Usos BIM

Por exemplo:

  • Um modelo pode ser utilizado para medir e analisar custos em todas as fases de projeto.
  • A coordenação pode ser feita desde a fase final do Design (Projeto de execução) e durante toda a fase de obra, através de nuvens de pontos.
Usos BIM
Fig. 3 - Usos BIM

Em jeito de conclusão, podemos dizer que a metodologia BIM não se remete só à representação gráfica de elementos construtivos e que existe toda uma panóplia de utilizações que podemos retirar de um único modelo de informação. Se nos cingirmos exclusivamente à sua representação gráfica (comunicar) estamos a utilizar só um 1/5 do potencial desta base de dados.

 

Convém ter sempre presente, que os modelos de informação são preparados especificamente para as diferentes utilizações, e que a melhor forma de otimizar e rentabilizar o trabalho de quem produz esta informação é estarem definidos todos os usos antes de começar o trabalho, de maneira a que o modelo final seja planificado e executado de maneira célere, de acordo com as necessidades identificadas.

Artigo de Diogo Almeida, técnico de pré-construção da TopBIM.

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